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(contains Web links to Flora-On for observed plant species, Web links to high resolution Google satellite-maps (JPG) of plant-hunting regions from the Iberian peninsula; illustrated text in Portuguese language)



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Polunin - Flowers of South-West Europe - revisited - última compilação

Polunin - Flowers of South-West Europe - revisited (Volume I - Portugal) Download PDFs (>300MB)

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Flowers of South-West Europe revisited (I.2.2a - A Península Ibérica)

“Flowers of South-West Europe - a field guide” - de Oleg Polunin e B.E. Smythies
“Revisitas” de regiões  esquecidas no tempo - “Plant Hunting Regions” - a partir de uma obra de grande valor para o especialista e amador de botânica como da Natureza em geral.
Por
Horst Engels, Cecilia Sousa, Luísa Diniz, Nicole Engels, José Saraiva
da
Associação “Trilhos d’Esplendor”

I .2   Relevo, Geologia, Clima e Vegetação da Península Ibérica

1.2 Relevo, Geologia, Clima e Vegetação da Península Ibérica

1.2.2a Clima e Tempo

Ocorrem três tipos principais de clima  na nossa área - clima predominantemente oceanico (atlântico) - que se observe e que afecta o oeste e norte das costas da Península Ibérica, as costas atlânticas e montanhas de França central e a parte norte e norte-oeste dos Pirenéus, com temperaturas amenas e pluviosidade alta - uma variante sul do clima oceânico típico encontrado no norte-oeste da Europa.
Segundo, o clima mediterrânico que não afecta apenas a costa mediterrânica, mas também a costa atlântica do Sul de Portugal e sul-oeste da Espanha, com Verões quentes e secas e Invernos temperados e húmidos.
E um tipo de clima continental  que afecta o planalto da Península Ibérica, com extremas de temperatura tanto diariamente como sazonalmente, e muita baixa e irregular pluviosidade.
O Clima da Península Ibérica [1]
A Península Ibérica é uma massa de terra tão extensa que gera um sistema climático próprio que é diferente de qualquer outra região da Europa. Está situada entre as correntes de ar quentes e húmidas do Atlântico Norte  e as áreas secas e quentes da África do Norte  e do Sahara . Também encontra-se nas depressões atlânticas que durante grande parte do ano são desviadas para sul ou para norte de forma que durante meses o efeito de mitigação deste ar carregado com humidade que provém do Atlântico tem muito pouco efeito sobre o clima de Espanha Central.
Na primavera e no outono estas depressões podem, no entanto, penetrar muito para dentro da península e produzir diferentes tipos de tempo e condições metereológicas.
Mas em geral o clima dos planaltos centrais é continental com Verões quentes e Invernos frios, enquanto as regiões periféricas possuem um clima atlântico ou mediterrânico mais ameno e húmido.
Os climas actuais da Espanha
No entanto, o clima não é uma constante - há mudanças no clima que podem ser muito bruscas.
Houve um tempo de arrefecimento “The Little Ice Age” [2]  entre os séculos XV e XIX que afectou todo Hemisfério Norte [3]  incluindo a Espanha.
Serra da Guadarrama, Madrid
e existem ainda hoje evidências como os “poços de neve” na Espanha e dos nevoeiros (os “frigoríficos” ao pê do santuário de Nossa Senhora da Piedade na Serra da Lousã) em Portugal de forma que era possível na altura recolher quantidades de neve no Inverno para transforma-la em gelo por pressão do peso dela própria, mesmo em regiões da península onde hoje não cai neve no inverno.
No livro “ Nuestro porvenir climático”  de Quereda Sala [4]  encontramos a observação:
“...the presence of an extensive network of ice stores known varyingly as neveras, pozos de nieve, ventisqueros and glaceres , which were built and maintained between the 16th and 19th centuries along the Eastern Mediterranean, some in areas where it no longer snows even one day. The storage and distribution of ice was a lively business involving whole sections of the rural population.”
Os “frigoríficos” na Serra da Lousã, Portugal
Santo António da Neve [5]
...No antigo Cabeço do Pereiro, freguesia do Coentral, concelho de Castanheira de Pera, ergue-se uma capela em honra de Santo António. Como foi mandada construir por Julião Pereira de Castro, neveiro-mor da casa Real, passou o local a designar-se por Santo António da Neve. Antigamente, à medida que a neve ia caindo, era recolhida e despejada para dentro dos Neveiros, onde se transformava em gelo. Já com o poço cheio, a neve era coberta com palha e fetos, de modo a conservá-la até ao Verão. Os poços estavam virados para Nascente para que o sol não derretesse a neve. Quando chegava o tempo quente, o gelo era cortado e seguia em grandes blocos para as cortes reais de Lisboa, para que os nossos reis e sua corte pudessem saborear gelados em pleno Verão. O transporte era feito, numa primeira etapa, em ronceiros carros de bois até Constância e, a partir daí, em barcos até Lisboa, onde era entregue no Café Martinho da Arcada. A Rede das Aldeias do Xisto já recriou esta tradição, tal como era feita em tempos antigos...
Os “frigoríficos” na Serra da Lousã, Portugal
Hoje estamos a sentir - sobretudo por um aquecimento global que como tudo indica, está a ser provocado e produzido pela própria espécie humana -, uma mudança do clima no sentido contrário do arrefecimento da idade média, ao nível global e também na Península Ibérica. Este fenómeno do aquecimento global ainda foi totalmente negligenciado e largamento desconhecido na altura quando o “ Polunin & Smythies ” foi escrito.
No entanto, temos de enfrentar um cenário com possibilidades de grande parte da Península Ibérica se tornarem em deserto até o fim deste século (2100) - de forma que toda a flora da península iria também com toda probabilidade sofrer grandes e drásticas alterações. Não podemos por estas previsões de parte e vamos discuti-las neste texto. Por isso, vai haver um capitulo sobre “ mudanças do clima ”; um capitulo que não existia ainda no “ Polunin & Smythies ” e que não era ainda questão científica na altura. Estes tópicos vamos abordar à seguir das observações que “ Polunin & Smythies ” fizeram sobre o clima.
Aqui apenas um cenário publicado pela “ Greenpeace ” - como a paisagem à volta de Valência pode mudar nos próximos 50 à 70 anos se as actuais tendências do aquecimento global continuam:
The fields of Valencia, which have provided Spain with oranges for centuries, as they look now. Agriculture in Spain will be dramatically affected by climate change, with reduced crop yields likely in the Mediterranean, the Balkans and in the south of European Russia due to water shortages and rises in temperature
By 2070, the photos show, the fields have almost completely disappeared [6]
O Mundo 4ºC mais quente [7]
Como se vê no gráfico, um mundo de 4ºC mais quente significava, pelo menos previsto em simulações, alterações do clima ao nível mundial - e o Sul da Espanha tornava-se num deserto como o sahara agora.
Mas voltamos à realidade do “ Polunin & Smythies ” como descrito há 30 anos:
O planalto central aquece rapidamente no verão por baixo de um céu claro e longas dias de luz solar, criando ventos que sopram para o interior a partir do Atlântico e Mediterraneo. Mas devido ao calor este ar húmido proveniente das costas seca rapidamente e pouca ou nenhuma chuva cai no interior. No entanto, podem ocorrer trovoadas intermitentes muito violentas acompanhadas por chuvas torrenciais que resultam em cheias desastrosas nas zonas costeiras.
Rio nas Astúrias depois de uma trovoada
No inverno, pelo contrário, ar congelado assenta sobra as mesetas  e neve cai em abundância nas montanhas. Este ar frio pode descer para as zonas costeiras do mar Mediterrâneo na primavera, e causar danos sérios à fruticulturas e horticulturas ao longo da costa.
As primaveras chegam mais cedo na Costa del Sol  onde as montanhas da Andaluzia protegem a costa contra os ares frios do interior, mas podem chegar surpreendentemente tarde na Costa Brava  devido à massa de ar frio do interior da península.
Tabela dos climas da Península Ibérica (from “Polunin & Smythies”, 1973)
A complexidade climatérica é ainda mais aumentada pela posição das cadeias montanhosas alpinas. A Cordilheira Cantábrica  que se estende ao longo da costa norte da Espanha, apanha com sucesso muito da humidade dos ventos que provêm do norte e do oeste - enquanto imediatamente por sul se estende a meseta na sombra de pluviosidade desta cadeia montanhosa e recebe muito pouco pluviosidade. Os Pirenéus  actuam como uma barreira quase contínua contra a chuva de forma que a bacia do Ebro por sul dos Pirenéus é uma das regiões com a menor pluviosidade da Espanha; e a Cordilheira Bética , as montanhas da Andaluzia no sul da península, formam uma barreira para os ventos sul-oeste. É apenas no sul e centro da costa portuguesa onde montanhas altas impedem a entrada de correntes húmidos de ventos e onde estes podem penetrar mais para o interior da península. Assim se forma uma linha de separação entre climas atlânticos e continentais aproximadamente ao longo da fronteira entre Portugal e Espanha. Apenas no extremo norte-oeste da península pode o tempo atlântico ser dominante durante o ano inteiro.
O Maciço Central  tem uma influencia semelhante sobre a parte francesa da nossa área. Estas terras altas actuam como uma barreira contra a chuva a capturam uma grande parte da humidade que provém do Atlântico enquanto a planície baixa da Aquitânia  deixa a passar para o interior sem impedimentos. A linha divisória entre o clima predominantemente atlântico no norte e o clima mediterrânico no sul-oeste da França encontra-se mais ou menos numa linha entre o ‘Carcassone Gap’ [8]  e as Cevenas. Para o sul existe um padrão familiar de Verões quentes e secas e Invernos amenas, com as chuvas concentradas largamente para o Inverno.
Estes são os padrões gerais dos climas de verão e do inverno; mas condições bastante diferentes predominam em outras estações do ano produzindo condições climatéricas muito variáveis.
Na primavera e no outono os sistemas normais de pressões atmosféricas são interrompidos; longos períodos de instabilidade podem ocorrer. Secundariamente, depressões podem ocorrer, particularmente no outono ao longo da costa sul-este de Espanha, e o tempo pode tornar-se nublado e chuvoso com aguaceiros súbitos e violentos.
Aqui por exemplo a notícia de 29.09.2012 de um temporal forte nesta região:
Según la   Confederación Hidrográfica del Segura  han caído 177,35 litros en las últimas horas en la cabecera de la rambla de Nogalte, en Puerto Lumbreras (Murcia). Durante la mañana del viernes la crecida del río Guadalentín en la ciudad de Lorca alcanzó picos de 2.000 metros cúbicos por segundo, según datos que facilitó durante la tarde de ese mismo día el Ayuntamiento. La riada arrastró a tres personas que han fallecido. Además, a una cuarta persona desaparecida en Sangonera la Verde, también en Murcia. Además, un hombre ha sido hallado muerto en el interior de un vehículo que había caído por un barranco, en la zona de Los Arroyos, en la localidad de Caravaca de la Cruz. Aunque inicialmente se atribuyó su muerte a las trombas de agua, fuentes de emergencias han explicado a  que su fallecimiento se debió a un accidente de tráfico anterior a los torrentes.
Depressões secundárias  no norte da península produzem no inverno e na primavera ainda outro tipo de tempo. Ar mais frio é desviado para sul, produzindo primeiro um tempo ameno ao longo da costa norte-este, seguido por tempo frio e tempestuoso e ventos fortes - os pargorii   da costa basco e os transmontana   da costa catalã. No inverno formam-se depressões secundárias na baía da Biscaia causando vendavais e chuvas fortes no pais Basco e nos Pirenéus ocidentais. Outro tipo de tempo é trazido por grandes depressões atlânticas que passam sobre o norte-oeste da península trazendo neblina, chuvisco e nevoeiro numa grande parte da costa, e ocasionalmente, no inverno, muito para o interior da meseta . No verão, o norte de Portugal e a Galiza continuam a ser afectados muito por estas depressões atlânticas.


Por fim ainda um filme de ARTE que que revela o equilibrio sensível entre a Natureza e o Homem (Gesichter der Arktis) e o perigo que a mudança do clima significa para esta região.



 

[4]   QUEREDA SALA, J. (et al) ( 2001 ): Nuestro porvenir climático. Ed. Athenea y Universitat Jaume
[5]  Nota Histórico-Artistica (De: IGESPAR - PESQUISA DO PATRIMONIO )
Na freguesia de Santo António da Neve subsistem três dos antigos sete poços de neve aí existentes, que serviam para armazenar a neve e conservá-la até ao verão. Nos poços, bastante profundos, era depositada a neve que os trabalhadores calcavam até ficar em gelo, protegendo-a com fetos e palha. De acordo com a Monografia de Castanheira de Pêra ( Kalidás Barreto, 1989) que seguimos, esta actividade encontra-se documentada a partir de 1757, por um alvará de D. José, onde o monarca revela grande preocupação com a "Real Fábrica que se acha no Cabeço do Coentral", ordenando atenção aos nevões e aos possíveis estragos nos poços e solicitando ainda mais trabalhadores para juntar neve. Para além dos poços há também notícia e vestígios de alagoas, ou seja, pequenos tabuleiros para depósito das águas da chuva, depois transformadas em gelo.
Uma vez chegado o verão, a neve era dividida em blocos e enviada para Lisboa, onde era utilizada em gelados, ainda que boa parte não chegasse nas melhores condições, devido os deficientes sistemas de acondicionamento (palha, fetos, caixotes) para uma viagem tão longa.
Exteriormente, os poços são octogonais e um deles circular, cobertos por abóbadas em forma de sino, executadas em pedra da região. A entrada é feita através de uma porta simples, e estreita, cuja abertura teve em consideração a menor intensidade possível de sol nesse local. O interior, muito profundo, apenas era acessível por escadas de madeira.
A actividade junto aos poços era de tal ordem que dificultava a assistência aos serviços religiosos e a deslocação dos trabalhadores à igreja de Coentral prejudicava a Real Fábrica. A solução do problema coube a Julião Pereira de Castro, neveiro-mor da Casa Real que, em 1786, decidiu erguer uma pequena capela no Cabeço do Pereiro. A inscrição que ainda hoje se pode ler assim o refere: "Esta capela do glorioso Santo António de Lisboa a mandou fazer Julião Pereira de Castro reposteiro do nosso reino da câmara de sua Majestade e neveiro de sua Real casa em terra sua ano 1786".
Conhece-se a data da licença do Bispo D. Miguel de Anunciação - 6 de Maio de 1778 -, época em que a capela estaria concluída ou, pelo menos, apta a ser palco das celebrações religiosas.
Trata-se de um pequeno templo de nave única com sacristia adossada à direita. A fachada principal, delimitada por pilastras nos cunhais, é marcada pela abertura do portal, com remate de cornija semicircular, e por duas janelas que o enquadram. Termina em frontão triangular, com cruz na empena e óculo no tímpano, sendo flanqueado pelos pináculos que coroam as pilastras.
(Rosário Carvalho)
[8]  a valley area formed by the tributaries of the Garonne and Aude rivers

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